"As coisas mudaram no dia que ela decidiu se entregar.
Não lembra em que instante isso aconteceu, mas desejou ficar diferente, com
menos rancor, menos mágoa, menos peso. Parou de procurar quem deixou de
pagar a conta e esqueceu todos os devedores pelo caminho. Na bagagem, só o
estritamente necessário. Eliminando sobras, aprendeu a aparar as arestas.
Dos pertences, restou apenas o desperdício de si, a entrega, o arrebatamento.
Pegou nos ares a estrela caída do céu, colocou no cabelo, como um iluminado
enfeite, e foi. Peito aberto. Braços estirados. A vida, agora, era
qualquer coisa pura, qualquer coisa livre, qualquer coisa genuína. Nada é pesado demais para quem tem
asas."
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